quarta-feira, 30 de abril de 2008

O CASO ISABELA, AINDA

Neste último mês, temos assistido a um verdadeiro massacre, com a cobertura pela imprensa do caso Isabela Nardoni. Não que um crime bárbaro como o ocorrido não deva chocar o país e a opinião pública. Ao contrário, é sempre saudável saber que o cidadão ainda tem a capacidade de indignar-se.
Todavia, o que estamos assistindo é a um verdadeiro linchamento de um casal, pai e madrasta da vítima, realizado pela imprensa, tanto pelos telejornais como pelos programas matinais de várias emissoras, sem mencionar os outros veículos de comunicação, mas o fato é que a televisão tem um maior poder agregador.
E todas as inserções caminham longe da objetividade, sem qualquer preocupação com a imparcialidade, procurando incutir na opinião das pessoas que os culpados já estão definidos. E, pasmem, sem que tenha sequer sido encerrado o inquérito policial. O que importa, necessariamente, dizer que não houve qualquer julgamento ou mesmo algum pronunciamento judicial que importe em apontamento de culpa. Sequer foram investigadas todas as possibilidades.
É preocupante tal situação pois demonstra que, ao passo que não existem outras catástrofes ou escândalos relevantes para serem noticiados no momento, não guardam qualquer preocupação com a veracidade dos fatos.
Isso faz lembrar outro episódio famoso, da escola base, onde um casal foi acusado de estuprar e matar uma criança e foi vítima de idêntico processo midiático, tendo suas vidas literalmente destruídas pelo escândalo que se seguiu. Posteriormente, o prosseguimento das investigações, já fora do foco da imprensa demonstrou cabalmente que o casal não tinha qualquer culpa do ocorrido.
O que se verificou, em seguida, foi a publicação de notas lacônicas, a este respeito, sem nem ao menos chegar perto da ênfase que se deu ao caso e ao julgamento precipitado. Nem sequer um pedido público de desculpa aos acusados aconteceu. Foram simplesmente esquecidos, depois de terem sido crucificados.
Outra questão elevante que se coloca, é o empenho com que a polícia conduz as investigações, ávida pelos holofotes e divulgação que o caso está rendendo, disponibilizando uma grande equipe de peritos e policiais. Um aparato que sequer chega perto do disponibilizado nas milhares de investigações que deveriam ocorrer, com relação aos milhares de crimes que acontecem todos os anos e que são relegados à gaveta do esquecimento, por não contarem com a atenção da mídia.
Portanto, entendo que é necessário investigar, sim, mas sem açodamento, pois não cabe à imprensa julgar, como vem acontecendo. E nem instigar a revolta popular, pois o exagero deste tipo de conduta pode levar a resultados desastrosos.
Não é por outro motivo que a justiça é lenta, principalmente na área penal. E principalmente para casos rumorosos, como este. Porque o julgamento imediato, no calor das paixões, como a maciça intervenção popular, insuflada pelos meios de comunicação, longe de ser um julgamento justo, nada mais é do que um linchamento.