quinta-feira, 7 de julho de 2011

MARINA SILVA ABANDONA PV

Marina Silva, que saiu do PV
Em um ato público nesta quinta-feira (7) em São Paulo, no qual a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva anunciou sua saída do Partido Verde (PV), dois dos fundadores da legenda criticaram os rumos do partido.

O ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) e o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) criticaram a legenda e defenderam a criação de um novo partido, em data ainda não definida, e a criação de um movimento suprapartidário. Sirkis anunciou sua saída da legenda e Gabeira demonstrou apoio à causa de Marina.

"Os partidos estão hoje muito desgastados e alguns distantes da população. Vamos olhar para os partidos com suas limitações ou pensar em um novo?", questionou Gabeira, sinalizando uma possível saída do partido futuramente. "De repente o PV se ligou que há milhões e milhões de pessoas que não estavam ligadas a ele."

Sobre o destino de Marina e dos demais dissidentes do PV ele afirmou que "certamente será um movimento muito mais forte".

Já Sirkis admitiu que a crise interna na legenda começou neste ano, cerca de cinco meses após a eleição, quando "solicitou ao Zequinha Sarney [da Executiva Nacional do PV] que houvesse mudanças, por exemplo, em relação à nomeação de dirigentes". "Não faz sentido a nomeação em cerca de 5.000 municípios sair da caneta de uma única pessoa", disse.

Histórico

A saída de Marina acontece nove meses após o primeiro turno da eleição para a Presidência da República, quando ela saiu politicamente fortalecida ante seus cerca de 20 milhões de votos, e já em meio aos acordos partidários que antecedem a sucessão municipal de 2012.

Há semanas a desfiliação é cogitada, em meio a desgastes internos que se arrastam pelo menos desde março com a cúpula do PV. Em março, reportagem da Folha de S.Paulo antecipava a disposição da ex-senadora em deixar o PV após o presidente do partido, o deputado federal José Luiz Penna (SP), ter liderado uma manobra na Executiva Nacional para prorrogar o próprio mandato.

A reportagem tentou ouvir Penna sobre a saída de Marina, mas a assessoria de imprensa da legenda informou que ele se manifestaria, “talvez”, apenas após o anúncio da colega na capital paulista.


Analistas comentam

Analistas políticos consultados pela reportagem no Rio e em São Paulo acreditam que a saída de Marina do PV é consequência de mudanças na legenda não apenas após o pleito de 2010, mas também nos últimos anos. Para os especialistas, a forma como Marina atuará será decisiva para os resultados da sucessão presidencial em 2014.

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa, Marina não conseguiria se viabilizar hoje “em partido algum”. “Porque as estruturas partidárias estão todas viciadas: os partidos têm donos, têm projetos pessoais e grupos articulados com outros interesses e compromissos --e por mais sucesso que um ‘forasteiro’ tenha, esse caciquismo está presente em todos."

Melo acredita que o mais adequado, após a saída do PV, seria que a ex-senadora e os defensores de suas propostas formassem uma organização própria que abraçasse outras causas sociais, e não apenas a ambiental. A partir dessa base, defende, a participação no pleito municipal do ano que vem seria base importante para a disputa de 2014.

“Infelizmente, a meu ver, a Marina deixou de manifestar o novo --e talvez os 20 milhões de votos que ela recebeu expressassem algo novo em meio a essas estruturas viciadas. E esse 'novo' precisa de novo surgir. Nesse momento é importante ela e seus companheiros se expressarem por meio de uma ONG, de toda a rede social que ela montou e que minguou muito da eleição para cá. E seria de bom grado que pudesse organizar minimamente um partido e disputasse, com uma agenda nova, uma grande capital brasileira --o Rio seria a cara dela, ou até mesmo São Paulo”, classificou Melo.

O professor de Ciência Política da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Jairo Nicolau afirma que o PV nacional, que buscou inspiração no PV europeu, encontrou realidade divergente no Brasil “porque aos poucos foi perdendo as pessoas que abraçavam a agenda original do PV”. Para o analista, a legenda se tornou “um partido tradicional; perdeu o charme”.

“Nesse contexto, a Marina acabou ficando em uma sinuca de bico. Como liderança civil, ela deveria fortalecer sua atuação na sociedade em torno do debate dos grandes temas e só então, depois das eleições do ano que vem --pois não haveria tempo hábil para criar uma sigla agora--, pensar um partido próprio”, afirmou Nicolau. “Ela não deveria ficar orientada pela recandidatura. Sua contribuição é muito maior como liderança civil, descolada de um certo oportunismo eventual."

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