terça-feira, 15 de março de 2011

TEM DEMOCRACIA NO ORIENTE MÉDIO?

Incrível como é cambiável o conceito de democracia, ao menos para os fins da política e diplomacia internacional. Nos anos 60 e 70, após apressar-se a reconhecer a "legitimidade" dos governos militares golpistas em todo o mundo, e principalmente na América Latina, principalmente por que estes tendiam a defender as posições norte americanas no cenário internacional, os governos americano e europeus eram extremamente refratários às guerrilhas  que lutavam contra as ditaduras sangrentas instauradas pelos governos militares.
Mesmo que estas guerrilhas representassem o ideal de liberdade e ecoassem o desejo da maioria da população.
Agora, em meio aos ventos de mudança que ocorrem no Oriente Médio, com o povo na rua derrubando as ditaduras estabelecidas, também nos anos 60 e 70, apoiados pelos mesmos governos americanos e europeus, o que parece se ver nos governos ocidentais é uma espécie de alívio. Alguém está matando o monstro que eles criaram e que não podiam mais dominar.
E não podiam dominar porque são clientes, tanto de ideologia política quanto de armas, para sustentar esta mesma ideologia. E qualquer país que não comungue deste mesmo pensamento é logo considerado inimigo e destruído, haja visto o que ocorreu com o Iraque, e que está prestes a ocorrer no Irã e na Coréia do Norte.
Todavia, dúvidas ainda permanecem quanto ao caráter "democrático" dos governos que irão se formar nesta região, após o levante popular. Agem, novamente, como dominadores e defensores de uma hegemonia de pensamento, que não admite qualquer dissonância. 
Pedem desculpas previamente para o que vier a ocorrer no Oriente Médio, com os novos governos, como se não tivessem qualquer culpa da situação como está poste e do que levou a ficar desta forma.
Dizem que a "cultura" da região é "muito diferente", o que torna diferente o conceito de democracia, como forma, novamente, de justificar uma posição de não considerar democracia tudo o que não for uma cópia fiel de seus próprios sistemas de governo.
Entretanto, mais peculiar, ainda, é a posição em relação à Líbia. Até poucos dias, era considerado um país soberano e respeitado como tal, inclusive no que se refere à legitimidade de seu governo, principalmente por ser um grande produtor de petróleo.
Contudo, esta soberania desaparece no exato momento em que os primeiros levantes populares  são internacionalmente divulgados, contaminados, certamente, pelo restante da região. Não se diga que os levantes populares não são legítimos. Evidente que o são.
O que se questiona é tão somente os valores cambiantes para esta democracia ocidental, que sequer é ocidental em sua gênese. O que era reprimido nos anos 60 e 70 - a manifestação popular - agora já é venerada como a maior expressão da democracia. E o simples fato de o levante ocorrer torna o governo estabelecido imediatamente ilegítimo.
Como se vi, no caso, que o governo francês já reconheceu a legitimidade dos rebeldes líbios como governo, aceitando até mesmo embaixador, sem sequer saber se existe unidade suficiente entre estes rebeldes para o estabelecimento de um governo ou quadros diplomáticos  para a nomeação de embaixadores.
O que se vislumbra, realmente, é a absoluta mudança de postura. Apenas pela simples contestação um governo passou a ser considerado ilegítimo, coisa que anteriormente não era sequer admitido. é verdadeiramente um absurdo que não se possa ter qualquer segurança em relação sequer aos governos constituídos e à soberania das nações e de sua autodeterminação.
É como se o ocidente estivesse desesperado para expiar os pecados cometidos durante o período da guerra fria, quando promoveram e sustentaram inúmeras ditaduras ao redor do mundo, e que agora não têm mais sentido ou utilidade para as potências ocidentais e fosse necessário eliminá-las, apoiando qualquer iniciativa contra estas. Mesmo que isso represente uma intervenção militar do ocidente - os fuzileiros navais norte-americanos já estão posicionados ao lado da líbia, prontos para uma intervenção, como fizeram no Iraque, sempre prontos a defender o fornecimento de petróleo, nem que para isso seja necessário forçar a barra para  o conceito de democracia que, se serve para eles, tem que servir para o resto do mundo.


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