quinta-feira, 26 de maio de 2011

DIREITOS X DEVERES


Repassando excelente texto para reflexão. 

Texto escrito pelo juiz da 5ª Vara Cível da Comarca de Blumenau e que leciona na FURB....

Caros alunos e professores, 

Outro dia, em sala de aula no período da manhã, eis que deparo-me, nos vãos calçados entre os blocos prediais da FURB, com uma faixa colocada pelo Sinsepes (quero crer tratar-se de algum sindicato ou congênere) dando comunicação de um imperativo "educação é um direito de todos" (acho que é isso que diz, entre outros comunicados, a referida faixa). 
O que me ocorreu não foi um espanto confuso, uma exaltação surpreendente ou um átimo de estouro, foi uma perplexidade infame, uma constatação tristonha ou, quiçá, um pressentimento preocupante. 
Ora, quando falamos em direito nesses termos, o conceituamos como uma obrigação que alguém tem com você. Se essa obrigação do terceiro é retirada, o que sobra do direito é nada, ficando apenas a retórica (que nem os sofistas conseguiriam resgatar - ainda bem!). É equivalente à sentença vazia que determina o pagamento de certa quantia a alguém sem que diga quem vai pagar. 
No caso específico da educação, se o "direito" é a "obrigação de um terceiro com você", esse terceiro são os burocratas: professores, pedagogos, intelectuais e outros dessa biologia maluca. 
Mas, e quando o terceiro confunde-se com o destinatário, tornando a obrigação algo para si próprio? Ou dito em outras palavras, quando é que vamos entender que a educação não é um direito e sim um dever?!! ... Uma obrigação que o sujeito tem consigo mesmo?!! 
O pai tem o dever de educar seu filho, o estado tem o dever de proporcionar até certo grau a chance de educação ao cidadão, mas, principalmente, atingido o grau mínimo de autoconsciência É DEVER DE CADA UM EDUCAR-SE, cáspita!!! 
É essa conveniente mania do grito constante de "direito, direito, direito" - sem a correlata, mesmo em sussurro, advertência de "dever" - que faz com que os estudantes brasileiros permaneçam, endemicamente, nos últimos lugares nos testes internacionais de ensino. 
Quando será que aprenderemos que a personagem principal (ativa) na sala de aula deve ser o aluno? Para esta exposição, recorro a um dos meus melhores professores, Olavo de Carvalho, que no texto "Educação ao contrário" vaticinou: 
... a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém. Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora. Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo. 
Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições, campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma. 
Portanto, meus caros, subam pela escada construída por vocês próprios; com genuíno esforço, com honrosa dignidade e inabalável verdade, ou então não subam por nenhuma! 
Atenciosamente,

Stephan Klaus Radloff.

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