A LIÇÃO DE ZÉ ELIAS

Ignorado pelo futebol, Zé Elias dá recado a jogadores: 

"Não se deixem levar"

Depois de cumprir pena por não pagar pensão alimentícia, Zé Elias diz que deveria existir no país uma associação de apoio a ex-jogadores de futebol

Zé Elias, que aprendeu muito com o episódio

José Elias Moedim Júnior, ou apenas Zé Elias no gramado, viveu uma carreira repleta no futebol.  O volante foi ídolo no Timão, jogou ao lado de Ronaldo na Inter de Milão, defendeu a seleção brasileira e foi campeão nacional com o Santos. Mas nada disso importou quando a tranca de sua cela girou em Pirituba (SP), no último dia 21 de junho.

Zé Elias cumpriu 30 dias de pena por não pagar R$ 932 mil de pensão alimentícia a dois filhos. O ex-jogador, hoje com 34 anos, foi liberto do 33º Distrito Policial no último sábado (20). Ele conta que, após um mês na cadeia, foi procurado apenas por amigos e não recebeu ajuda de nenhum clube ou associação.

- No Brasil, não há união no futebol. É uma classe desunida. Não existe um sindicato de jogadores como na Itália, que é capaz de parar um campeonato. Ou um fundo como o que existe naquele país, que permite jogadores estrangeiros resgatarem um valor, caso precisem.

Na cela que dividiu com outros sete presos, Zé Elias foi visitado por alguns amigos que conquistou no futebol. Entretanto, nenhum time que defendeu entrou em contato com seu ex-atleta.

- O Viola, o Marcelinho [Carioca], o [Marcos] Vizolli do São Paulo, e o Paulinho Kobayashi foram lá me ver. Acho que seria melhor se houvesse uma associação que ajudasse ex-jogadores em suas necessidades. O problema é que a carreira é curta, e o pessoal não pensa. Os jogadores só querem ganhar o máximo possível e se acertar na vida.

Zé Elias acabou na prisão depois que sua ex-mulher, Silvia Regina, protestou na Justiça o não pagamento da pensão, de R$ 25 mil, para cada um dos dois filhos. Após se aposentar em 2009, ele trabalhou brevemente como comentarista de futebol no rádio, mas a carreira de comunicador não foi para frente. No momento da prisão, ele estava desempregado.

A advogada do ex-volante, Gislaine Ferreira, conseguiu reduzir a pensão no início de agosto, para apenas um salário mínimo por filho. Entretanto, Zé Elias, um dos jogadores que mais jovem vestiu a camisa do Corinthians - não havia nem completado 17 anos quando estreou em 1993 -, teve de encarar 30 dias de prisão e o "esquecimento" do ex-clube.

No time do Parque São Jorge, foi campeão do Paulistão e da Copa do Brasil em 1995. Além de jogar na Inter de Milão entre 1997 e 1998, Zé Elias disputou o campeonato alemão, grego, ucraniano e austríaco. Sua última conquista foi o título nacional com o Peixe, em 2004.

"Zé da Fiel", como era chamado pela torcida alvinegra na década de 90, agora quer distância dos clubes de futebol, e pretende apostar na carreira de comentarista esportivo. Hoje casado de novo com Renata, com quem tem dois filhos, Zé Elias praticamente não conversa com seus pais e tem pouco contato com o irmão Rubinho, goleiro do Torino. Mostrando abatimento pelas noites "mal dormidas" e com a voz tímida e baixa, ele não se furtou em dar um recado para os jogadores brasileiros. - Não se iludam com o que o futebol trás para você. Vivam a vida ao máximo, mas tentem sempre ser você mesmo. Depois que você para, é apenas mais uma pessoa normal no mundo.